Salão de Beleza

...Pode cortar mais um pouco nas pontas....dizia Helen para sua cabelereira...- Assim esta bom? (perguntava a profissional) -Olha, se cortar um pouco mais dos lados ficará melhor! Enquanto concentravam-se em seus cortes, podia-se ouvir os murmúrios de conversas paralelas dentro daquele salão de beleza cheio de mulheres em busca da perfeição. Ouvia-se de tudo por ali. (...) - Você soube que a filha da fulana está grávida do filho de ciclano? (...) - e a madame tal que colocou um chifre no marido... (...) - o Dr fulano está falido e mesmo assim compra carro novo,deve estar traficando.... (...) soube da filha da ciclana que ta viciada em cocaína... E, assim, ao mesmo tempo em que se cortava os cabelos, fazia as unhas ou qualquer outra coisa, podia-se saber tudo o que se passava com a vizinhança. Suas fofocas ardiam e incentivavam cada vez mais a lembrarem de uma mais bizarra pra se contar. Tinha umas que eram aumentadas. Outras ainda inventadas para que todos participassem da diversão e com isso matassem o tempo enquanto cuidavam de suas belezas.
Helen podia ouvir cada trecho, mas se continha em seu silêncio. Helen, desde cedo preocupava-se com os conteúdos internos. Sua beleza física não era lá essas coisas, mas pra ela isso não importava, sempre olhava o conteúdo de tudo e não a aparência. Helen era adepta do Budismo, e aprendera desde cedo a valorizar as coisas de maneira diferente. O mundo para ela, tinha um outro ponto de vista, vivia harmoniozamente e consciente de seu destino. Mas, ouvia atenciosamente aquelas conversas de salão, para que pudesse tirar disso uma lição. Percebia a cada trecho de fofoca, o vazio que se instalava em cada uma daquelas mulheres fúteis que por ora apenas estavam se preocupando com a beleza externa, enquanto que ao mesmo tempo, expunham seu veneno deplorável em forma de palavras. Suas vidas, provavelmente eram cheias de frustrações e de medos. Aquele que teme ser feliz, torna-se o retrato de suas quimeras. Sofrem por não terem acreditado que o que os faria feliz estava bem ao seu alcance, e não tiveram capacidade de buscar. Jogam suas frustrações deturpando a vida de outras pessoas que aparentemente pensam estar em uma infelicidade maior que seus próprios vazios. Projetam suas desgraças para que possam se sentir aliviados.
-...Está pronto o corte. Disse a profissional para Helen. -...Quer que faça uma escova? Helen levanta-se subitamente e diz: -Não, não precisa fazer escova não,eu prefiro meu cabelo natural. Helen retirou 50 reais de sua bolsa e pagou pelo serviço, saiu caminhando pela calçada, refletindo sobre a vida vazia daquelas pessoas que fofocavam sem parar. E chegou à conclusão de que se as pessoas pudessem sair de um salão de beleza tão belas por dentro como por fora, tudo ia ser completamente diferente.

tempo, tempo mano velho falta um tempo ainda eu sei, pra você correr macio...