As portas se fecham repentinamente, ouço um piano ao longe, presto atenção naquelas notas soando harmoniozamente uma melodia de Chopin. O céu de um tom azul torna-se mais índigo com a beleza da música. Minha alma cansada, embora triste, se faz por alguns instantes mais feliz. Mesmo quando as portas se fecham, a música devolve o colorido do dia. Meu corpo instável, minha alma aflita repudia a própria sombra. Basta de tudo que possa parecer sombrio. Busco incansavelmente a paz. Caminho até a cozinha e arrasto uma cadeira para sentar-me à mesa. A mesa está farta, mas dentre aqueles alimentos aparentemente impecáveis e suculentos, havia um cheiro podre. Meus olhos mais lerdos que meu olfato procuram em vão de onde vem aquele odor. Há algo de podre na mesa farta. E não consigo ver. Preciso por as mãos e remexer os alimentos para descobrir. Enfio as pontas dos dedos nos bolos, nos pães. Havia um bolo completamente embolorado. Aqueles fungos salientes, aquela cor esverdeada. Enfiei os dedos com prazer, e imediatamente minhas unhas se fundiram à cor de mofo. Meus dedos estavam agora coloridos e o cheiro podre tomou conta do ambiente.
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