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novembro 10, 2009

A Legião Estrangeira...

...(...)Muito tempo depois percebi que era comigo q Ofelia falava.
_Acho _ acho que vou botar ele na cozinha.
_Pois vá.
Não vi quando foi, não vi quando voltou. Em algum momento, por acaso e distraída, senti há quanto tempo havia silêncio. Olhei-a um instante. Estava sentada, de dedos cruzados no colo. Sem saber exatamente por que, olhei-a uma segunda vez :
_Que é?
_Eu...?
_Está sentindo alguma coisa?
_Eu...?
_Quer ir ao banheiro?
_Eu...?
Desisti, voltei à máquina. Algum tempo depois ouvi a voz:
_Vou ter que ir para casa.
_Está certo.
_Se a senhora deixar.
Ohei-a em surpresa:
_Ora, se você quiser
_Então, disse, então eu vou.
Foi andando devagar, cerrou a porta sem ruído. Fiquei olhando a porta fechada. Esquisita é você, pensei. Voltei ao trabalho.
Mas não conseguia sair da mesma frase. Bem _ pensei impaciente olhando o relógio _ e agora o que é? Fiquei me indagando sem gost, procurando em mim mesma o que poderia estar me interrompendo. Quando já desistia, revi uma cara extremamente quieta: Ofélia. Menos que uma idéia passou-me então pela cabeça e, ao inesperado, esta se inclinou para ouvir melhor o que eu sentia. Devagar empurrei a máquina. Relutante fui afastando devagar as cadeiras do caminho. Até parar devagar à porta da cozinha. No chão estava o pinto morto. Ofélia! Chamei num impulso pela menina fugida.
A uma distância infinita eu via o chão. Ofélia, tentei eu inutilmente atingir à distância o coração da menina calada. Oh,, não se assuste muito! Às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro! A gente não ama bem, ouça repeti, como se pudesse alcançá-la antes que, desistindo de servir ao verdadeiro, ela fosse altivamente servir ao nada. Eu que não me lembrara de lhe avisar que sem o medo havia o mundo. Mas juro que isso é respiração. Eu estava muito cansada, sentei-me no banco da cozinha.
Onde agora estou, batendo devagar o bolo de amanhã. Sentada, como se durante todos esses anos eu tivesse com paciência esperando na cozinha. Embaixo da mesa, estremece o pinto de hoje. O amarelo é o mesmo, o bico é o mesmo. Como na ´Páscoa nos é prometido, em dezembro ele volta. Ofélia é que não voltou: cresceu. Foi ser a princesa Hindu por quem no deserto sua tribo esperava.

Clarice Lispector
extraído do conto A Legião Etrangeira

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