. DOM

. Acreditava-se que ela tinha olhos e ouvidos espalhados no corpo, tão grande era a precisão com que percebia as coisas distantes de seu alcance. Na verdade era uma intuição que gritava o tempo todo e ecoava em seu âmago. Sabia o que acontecia sem nem mesmo estar presente. Se falassem dela seu corpo sofria uma reação instantaneamente. Sentia-se uma anomalia da natureza. Todos a viam com um pouco de medo. Medo de não conseguir esconderem quem verdadeiramente eram. Em sua vida, não existia mentiras nem ilusões. Tinha que ter coragem para enfrentar a vida na forma real que se apresentava. Seu aspecto era de tamanha discrição que quem a via, nem sequer imaginava que seus pensamentos estavam sendo dissecados por aquele ser simples e enigmático. O que mais chamava a atenção em suas caratcterísticas físicas, era seus olhos amendoados e profundos. Quando focava aqueles olhos em alguém, dava a impressão que lia sua alma e trasnscendia no entendimento. Todos desejavam e ivejavam aquele dom. Mas ela, ela queria fugir de si mesma,´não mais aguentava desvendar a realidade. Seu sonho era alienar-se e desprender-se da vida mundana, para nunca mais sofrer com aquelas energias bizarras. Seu sonho era transmutar a matéria e deixar de ser carne, vibrando luz. Mas a vida lhe era cara, mesmo quando fatigada, lutava contra seus piores pesadelos. E seus olhos que alcaçavam além da alma e seus ouvidos que ouviam murmúrios cósmicos. Isso tudo, não a fazia se sentir melhor que outrem. Sentia-se por vezes marginalizada. Outrora pensava em partir. Fugir. Mas para onde? Sabia que onde fosse sua bizarra sensibilidade a acompanharia. Queria fugir das vozes que sussurravam dia e noite em seu ouvido. Queria fugir daqueles pensamentos mórbidos de pessoas deprimidas. Mas, nada adiantaria. Seu destino era o incompreensivel. Seu destino era um reino de dolorosas verdades. Seu destino era enfrentar e conviver coms seus mais enfadonhos dons.